Em uma simples conversa
30 de Novembro de 2022

Por mais que eu soubesse, nunca havia de fato percebido com tanta nitidez. Talvez pelo puerpério que estava vivenciando, momento único de sensibilidade, ou por ter sido sem esperar, em uma simples conversa rotineira. Mas agora definitivamente entendi: a sociedade não somente não apoia a prática da maternidade integral, ela menospreza, diminui e até mesmo repreende esse comprometimento.
Certo dia, alguém contava sobre a história de uma mãe, que, mesmo trabalhando em casa, não podia sequer olhar para seu filho pequeno durante o dia, tamanha a demanda de trabalho. E não era força de expressão, ela realmente não podia parar por um minuto. De fato, muitas vezes não temos alternativa, essa é a única forma que encontramos para viver e oferecer o que julgamos ser o melhor para nossa família.
O que me surpreendeu foi a implícita afirmação de que aquele trabalho era mais importante do que cuidar de uma criança. Onde achei que diriam ser um lamento viver dessa forma, encontrei o enaltecimento desse estilo de vida, que era tido como algo muito louvável. E dessa mesma forma pensavam a mãe, a avó e a bisavó.
Quando 3 gerações de mulheres acham que um emprego que exija todo o tempo do seu dia trabalhando para homens estranhos é mais importante do que ficar com o próprio filho, há algo muito errado com nossa sociedade. Não com essas mulheres ou com essa mãe específica, mas com o que nos fizeram crer.
Nos fizeram crer ser um disparate abrir mão da carreira, do estilo de vida, da sua independência para cuidar exclusivamente dos filhos, mas quase ninguém acha um absurdo abrir mão do cuidado integral do seu filho para voltar à vida antiga tal como era. Não sou contra à volta da mulher ao mercado de trabalho e para seus projetos, apenas ficou claro que, para a sociedade, só há valor em apenas um dos lados a ser escolhido, o da carreira. Por tanto tempo e por tantos meios isso vem sendo reforçado, que julgo ser difícil discorrer sobre os motivos pelos quais essa ideia começou a ser implementada. Para um aprofundamento nesse tema, sugiro a leitura do livro “O que aconteceu com as mães”, de James Kimmel.
As mães que escolheram não ter carreira profissional, independência financeira, vida social ou status para poderem entregar sua vida à maternidade às vezes se esquecem, mas no fundo sempre sabem que o que recebemos todos os dias é de tamanha grandeza que absolutamente nenhuma dessas coisas faz falta. Um sorriso verdadeiro, mãozinhas pegando na nossa, os apelidos carinhosos, um “eu te amo” inesperado quando mais precisamos, os olhinhos inocentes brilhando com uma pequena conquista que só faz sentido pra quem estava lá, junto, lado a lado. Isso tudo preenche a vida incrivelmente antagônica das mães em tempo integral. Antagônica por ser tão difícil e tão, mas tão maravilhosa.
De uma mãe aprendiz.