DNA materno

30 de Dezembro de 2022

imagem de Kevin Carden
imagem de Kevin Carden

A maternidade me mordeu, modificou minhas células e transformou meus olhos. Sou outra, dos pés à cabeça.

O coração se multiplicou e agora bate fora do peito. Acelera, desespera, recupera. Amolece, adoece, agradece.

Estou febril. Febril de amor, febril de dor. Como podemos estar tão cansadas e tão gratas? Gratas e tão culpadas? Culpadas e tão orgulhosas?

A maternidade me levou embora. Me devolveu nova e renovou meu eu. Me mudou por completo, preencheu o peito, sacudiu o teto.

Ela está por toda casa. Nos cantos de brinquedo, nas facas escondidas, nos porta-retratos. Tem cheiro de lavanda e bagunça.

A maternidade vai comigo onde quer que eu vá. Nas saudades instantâneas, no rolo de câmera monotemático, na ansiedade para voltar logo.

Por mais que seja preciso respirar, o ar mudou e o senso de liberdade também. Sem meus filhos não sou completa. Eles viajam comigo mesmo quando não estão na mala.

A maternidade renovou meus votos. Mudou meus planos, virou do avesso, aconchegou-se aos poucos. Casou de novo, refez o caso, ficou pra sempre.

Me ensinou, reinventou e ressignificou tudo ao meu redor. Está em cada pedacinho da minha vida, do começo ao fim.

Sou força, sou colo, sou mais. Doeu nas entranhas, mas valeu mil vezes. Por eles eu viveria mil vidas.

Agora sou mãe e não tem mais volta.

texto de Gabi Lima @bilheteparamaes