Reencontro

Ontem olhei no espelho e não me reconheci. Parei e olhei de novo, dessa vez com calma. Vi meu rosto cansado e perguntei: desde quando aquela ruguinha está ali? E aqueles fios brancos? E essas olheiras? Há quanto tempo eu não olhava para mim de verdade?

Então ali, parada, na frente do espelho do banheiro de um shopping, me permiti demorar mais alguns segundos antes de sair correndo para a vida real. Me permiti procurar a mulher que existe por trás da mãe. Foi um reencontro lindo.

Lembrei dos tempos de bom humor, de pele viçosa, de sono prolongado, de independência. Saí do banheiro ainda sentindo o gostinho desse passado tão recente e ao mesmo tempo tão distante. Confesso que, às vezes, chego a esquecer quem eu era. E aí dou de cara com meu “hoje”, meu presente, meu melhor: meu filho e seu sorriso maior do mundo. Grita “ma-ma” para a praça de alimentação inteira ouvir. O coração enche de um amor que não dá pra explicar, que dói, que embriaga. Você já se sentiu como se fosse o mundo pra alguém? É assim que eu me sinto quando ele olha pra mim.

E, pensando em tudo isso, percebo que não posso esquecer a mulher que fui antes de ser mãe. Foi ela que me trouxe até aqui, que me proporcionou esse presente. Não posso simplesmente deixá-la pra trás bem na hora de comer o recheio do bolo. Não! Não seria justo com ela, não seria justo comigo, não seria justo com meu filho. Preciso dela aqui, ao meu lado, me ajudando a levar de forma mais leve a maternidade, me ajudando a rir nas horas que dá vontade, e a chorar, quando for preciso também. Preciso dela aqui, para me lembrar que existe uma mulher além da mãe, que está tudo bem eu não dar conta de tudo, que está tudo bem querer sumir às vezes, que está tudo bem não ser perfeita. Precisamos nos reencontrar com quem éramos para que possamos voltar a ser completas. Nossos filhos merecem nossa melhor versão e a melhor versão sempre é a sem cortes.

Texto de Kassiane Costa, do livro Mãe fora da caixa (Thaís Vilarinho).