O medo do parto

22 de Julho de 2024

pintura de Amanda Greavette
pintura de Amanda Greavette

Assim que soube que estava grávida novamente, um dos meus primeiros pensamentos foi: vou ter que parir de novo, e agora? Desde aquele dia, uma grande aflição se apossou de mim. Aflição que virou medo, que virou tormento, que virou pânico em alguns momentos.

Tudo por causa da imensa dor que senti no meu primeiro parto. Dor insuportável, surreal, monumental. Mas hoje sei o motivo de ter sentido aquilo… leia até o fim pra entender!

Cogitei até mesmo anestesia em um parto hospitalar, o que fosse preciso pra não ter que encarar meu terror interno. Mas encará-lo era o único caminho possível pra mim. Então decidi que não iria passar os 9 meses “parindo” com medo, mas que em vez disso, buscaria ferramentas que me ajudassem a transformá-lo.

Caminho sem volta de uma busca incessante. Foram tantas etapas, tantos altos e baixos. Foi preciso olhar para a relação com a minha primeira filha, com esse novo bebê, com a própria noção de gestar, para a relação com a minha mãe, com o meu marido, com a maternidade, e o principal (e mais difícil): olhar pra mim mesma.

Também busquei por vídeos, livros e pessoas que pudessem trazer uma luz, uma nova percepção para esse momento. Muita meditação, respiração, alongamento, expansão de mim mesma e de minhas memórias em todos os meus corpos. Perdão pro que já foi e abertura pro que viria. Reverência ao momento sagrado e poderoso do nascer e simplicidade para algo quase corriqueiro, de tão natural que é.

Contudo, o que de fato ajudou foi o insight de olhar para a situação como uma mera observadora. Eu pari como se estivesse assistindo alguém a parir. Sem apego, controle ou anseios, apenas confiando totalmente nessa dança da vida, que tanto me surpreendeu.

E assim aconteceu um trabalho de parto rápido, sereno, consciente, com o nível de dor que deve ser: forte sim, muito forte, mas completamente suportável, aceitável, diferente de um sofrimento. Não uma dor gerada pela adrenalina que é liberada no sangue quando nos sentimos ameaçadas, pressionadas, coagidas, inseguras, com medo, podadas – o que me aconteceu no primeiro parto, por diversos motivos. Essa liberação de adrenalina impede a liberação da ocitocina, o hormônio do amor, que deveria imperar no trabalho de parto, trazendo alívio, conforto e alegria em parir.

Será possível nos sentirmos seguras com muitas pessoas estranhas, luzes, máquinas e intervenções nos incomodando na hora do parto?

Deixo a resposta para cada um refletir.

Entregue-se e deixe a força da vida prosperar. Não tema, seu corpo saberá o que fazer.

De uma mãe aprendiz.